quarta-feira, 24 de março de 2010

Educação Indígena e as consequencias da civilização

Educação Indígena e as consequencias da civilização

Gostaria de iniciar este texto, relatando o meu primeiro contato com a educação indígena.
Em 2005, ao cursar uma disciplina de mestrado na USP-SP, participei de várias discussões antropológicas no âmbito da educação e da pesquisa. Me recordo que ao estudar a educação indígena com o grupo de alunos que estudavam comigo, a Prof. Drª Maria do Carmo Santos Domite, sugeriu que em uma das aulas seria interessante conversarmos com um professor (nativo) de uma aldeia, a turma adorou a ideia e então tivemos uma aula com o tempo totalmente reservado, para uma longa conversa com o professor Xitana. Esse professor nos contou dentre várias coisas, algumas consequências que o processo de civilização, estava trazendo para a comunidade indígena, como por exemplo o alcoolismo; uso de drogas; perda de identidade cultural; muitas doenças antes curadas pelo pajé com rezas e remédios naturais, não eram mais curadas com comprimidos e outras formas de tratamento; suicídios; jovens índios casando-se com com pessoas não-índias e desaparecendo das aldeias; entre outras.
No decorrer da conversa, este professor atentou-nos sob a importância da obrigatoriedade, para que um profissional da educação atue em um sala de aula de uma escola na aldeia, seja um nativo da respectiva etnia. Por que da importância? Antes sem essa obrigatoriedade, os professores queriam impor aso alunos índios, uma cultura diferente a de sua etnia. Por exemplo: nem todas as aldeias utilizam o sistema de operações matemáticas na base 10. Xitana nos contou que se desenharmos na lousa 2 quadrados idênticos em tamanho e cor, e perguntarmos para os alunos índios quantos desenhos têm desenhados, eles responderão 1 desenho. Se na mesma lousa, for desenhado um triângulo e, novamente perguntarmos para esses alunos quantos desenhos tem desenhados na lousa, eles responderão 2. Ou seja, os 2 quadrados, idênticos no tamanho e na cor representam 1 objeto. Outro problemas citado por esse professor é que os alunos da aldeia estavam perdendo um pouco do interesse em estudar sua língua, e preservar sua cultura.
A invasão dos europeus à a América e o conflituoso processo de colonização, que consiste na imposição de uma nova língua e uma nova cultura. Para D`Ambrósio (apud Santos, 2008, p. 35) é necessário:
“... uma reflexão a respeito das raízes do indivíduo que recebe ensinamentos dos pais, amigos, parentes, vizinhos e pessoas que vivem próximas. A atitude de um colonizador é de acabar com as raízes de um povo para impor as suas. Este processo é comparado com o momento em que o aluno chega à escola e seus conhecimentos cotidianos são negados e marginalizados.”
Assim, vejo que na educação indígena, a pedagogia não pode ser marginalizadora ou colonizadora, fazendo com os educando índios neguem suas origens, costumes, entre outros. Domingues afirma que os índios jamais
perderam sua identidade cultural, com a educação recebida dos padres jesuítas, mas sim o que se perde é a identidade étnica. Ele ainda afirma que para o processo de civilização indígena, dizia-se que se os índios quisessem sobreviver à pressão civilizatória, teriam que se aculturar. Assim, cultura vivida e praticada por povos de distintas etnias, muitas vezes é rejeitada, reprimida e assim diminuída, desencorajando e eliminando as pessoas dessas etnias como produtores de conhecimento e entidade cultural.
Em vários setores da sociedade, como as próprias legislações, em alguns momentos sugerem que povos de algumas etnias, inclusive indígenas, necessitam de uma interversão externa para que sejam aprimorados os modos de vida. Domingues a esse respeito dia que “a antropologia vem demonstrando cada vez mais, é que as populações indígenas constituem, do ponto de vista social e cultural, verdadeiras nações organizadas em pequenas unidades economicamente autônomas e politicamente independentes.”(p.73 )
Historicamente povos indígenas vem sofrendo violência por não índios, de caráter físico, cultural, religioso, entre outras. Domingues (p.76)diz que “O indígena foi batizado e proibido de tudo aquilo que ele fazia antes com o seu corpo. Tentou-se transformar este corpo em um corpo cristão, por meio da imposição de regras e restrições, além de castigos, os quais deixavam marcas sobre a carne pecadora.”
É necessária a estruturação da dignidade dos indivíduos com o
reconhecimento e respeito às suas raízes, que não significa ignorar e rejeitar as
raízes do outro, mas trabalhar no reforço de suas próprias.
Assim, o que se busca é uma educação que conduza à valorização da
diversidade cultural. O grande desafio é integrar a matemática a esses objetivos
no sentido de eliminar a desigualdade que discrimina e colaborar para a
preservação de diversidade.

Bibliografia
-Domingues, Sérgio Augusto. Sujeitos e saberes da Educação Indígena. Textoi elaborado para o curso de extensão em"Educação para Diversidade e Cidadania", da UNESP Bauru.
-Santos, Cleber Faustino dos. Etnomatemática no ensino brasileiro: alcances e
limites. São Paulo, 2008. 158 p. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado Interdisciplinar da Universidade São Marcos.

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